A Evolução dos Jogos de Luta

Para você que gosta de Hadouken e Shoryuken, hoje trago a história dos games de luta.

Pré história dos games de luta

O ser humano sempre gostou de disputar e, principalmente, vencer. E que sistema sempre esteve presente com a humanidade onde tinham vencedores e perdedores? As lutas. E nos vídeo games não foi diferente, porém lá no passado tudo era muito arcaico e diferente de como conhecemos hoje.

Em 1976, surge o primeiro conceito de jogo de um contra outra, o Knights In Armor, onde jogadores se enfrentavam como uma disputa de cavaleiros, e o objetivo era derrubar o adversário.

Knights In Armor

No mesmo ano, a SEGA trouxe ao mercado o Heavyweight Champ, esse pode ser considerado um modelo próximo do que conhecemos hoje, onde o game trazia pugilistas para se enfrentar, sendo que, para jogar no fliperama, havia uma luva de boxe, onde você podia mover ela para bloquear ou atacar.

Heavyweight Champ

A partir desse momento, os games lentamente foram aprimorando os conceitos de um jogador contra o outro. Ao mesmo tempo que os arcades evoluíam, os games iam se tornando mais caros, e as empresas começaram a mirar no mercado de consoles. Assim como a SEGA, a Activision lançou um jogo de pugilistas, o Boxing 1980 para o Atari.

Nos anos seguintes, vários games trouxeram algumas novidades, porém a maioria deles não causou um grande impacto. Em 1982, chega Karate para o Atari, que contava com uma variedade de ataques dependendo da direção do manete do joystick, e o botão pressionado. No mesmo ano, surge Bilestoad, que era possível cortar braços dos adversários. Em 1983, surge Swordfight, que trouxe a opção de replay.

Karate (Atari)

Em 1984, surge Karate Champ, com um dos recursos que usamos até hoje, reter ataques. Surge outro jogo impactante, o Karateka, com uma grande atenção nos detalhes como rotoscopia, e a capacidade de se curvar aos inimigos, várias pessoas acharam que era o ápice da geração rs…

Yie Ar Kung Fu, chegou em 1985 pela Konami, sendo que o jogo trouxe vários personagens distintos, cada um com golpes e poderes diferentes, o jogo se tornou um sucesso comercial.

Yie Ar Kung Fu

A Konami produziu outro game no mesmo ano, o Galatic Warriors, que possuía barras de vida, além de poder alternar entre ataques de longe e perto. A Taiyo, lançou Shangai Kid, que contava com os primórdios do sistemas de combo, caso você apertasse botões com um timing próximo.

Em 1987, a Capcom entra nos games de luta, e lança Street Fighter, sendo que para a época, o game possuía personagens bem detalhados. Você controlava Ryu, que viajava pelo mundo para se tornar o campeão dos lutadores de rua (Sagat, Gen, Adon, Bidie e Ken também estavam nesse game).

A Capcom produziu dois tipos de arcades, um com punch pads, onde os jogadores precisariam dar socos em botões gigantes, e o sistema iria calcular se era um golpe fraco, médio ou forte. Esse tipo de arcade além de ser caro, começou a apresentar problemas tanto na precisão, quanto na longevidade, pois imaginem vários jovens dando muitos socos nas máquinas rs…

Fliperama do Street Fighter 1, a esquerda com punch pads, e a direita com botões comuns

O segundo tipo de arcade, traria botões comuns, sendo 3 para chutes e 3 para socos, cada um com Fraco, Médio e Forte (padrão até os dias de hoje). Além desses detalhes, o jogo contava com ataques especiais como o Hadouken (se bem que para soltar 1, era bem difícil, pois a precisão tinha que ser exata). Acabou que a produção do game foi cara, e não teve o retorno esperado.

A Capcom então, “desiste” de continuar a saga do Ryu, e lança Final Fight (conhecido anteriormente como Street Fighter 89) um jogo beat’em up onde pegaram algumas coisas de Street Fighter e melhoraram. Como a qualidade do game estava elevada, a Capcom pensou que seria melhor dar uma continuação a saga de Ryu, e que ela poderia dar um bom retorno financeiro.

Poster do Street Fighter 89, e em baixo já transformado em Final Fight

Street Fighter 2 e a padronização dos games

Antes da Capcom continuar a sua franquia, várias outras empresas viram o potencial de Street Fighter, e muitas começaram a criar clones do game, ou jogos inspirados, para tentarem conseguir alguma grana. Para citar alguns games que surgiram nessa época, podemos lembrar de Kageki, Fighting Road, Tenkaichi Bushi, Sing Image, Violence Fight, etc…

Uma empresa que ficou fascinada com esse mercado, foi a SNK, que contratou alguns funcionários chaves da Capcom, como o diretor Takashi Nishiyama (que também esteve envolvido em Kung Fu Master).

A Capcom sabia que para continuar com Street Fighter, ela precisaria corrigir todos os erros, e assim em 1991 lançou Street Fighter 2 (ou Street Fighter II), sendo que agora 8 personagens eram controláveis, e todos carismáticos, e cada um com uma mecânica diferente, por exemplo, se com Ryu você tinha que usar meia lua, com o Blanka era trás-frente, e por ai vai.

Arcade de Super Street Fighter 2

Na questão da jogabilidade, a Capcom teve uma grande sacada, que foi adicionar um pequeno delay de tempo, quando o jogador executasse um golpe, diferente do primeiro game, assim tornando o procedimento de soltar um Hadouken bem mais fácil.

Além da dificuldade do fliperama (para gastar fichas e mais fichas rs), o jogo continua um fator replay enorme, pois ao tirar partidas no famoso Versus, vários jogadores queriam desafiar as habilidades dos amigos, e isso fez com que os donos de fliperamas ganhassem muito dinheiro, e consequentemente a Capcom também.

Street Fighter 2 teve várias versões, sempre equilibrando o gameplay e adicionando recursos extras, como sistemas de combos, velocidade aumentada (devido ao famoso Street Fighter de Rodoviária rs), e até especiais.

Mortal Kombat, e a violência nos games de luta

Ed Boon e John Tobias que trabalhavam na Midway, queriam criar um jogo de luta, que desafiasse a supremacia do Street Fighter nos arcades americanos. Tobias sentia que os games de luta precisavam de um pouco de sangue digamos assim rs.

Tudo começou com uma licença do filme Soldado Universal protagonizado por Jean-Claude Van Damme, porém a licença expirou, mas eles mantiveram a ideia, só que agora, seria um projeto de um jogo novo.

John Tobias e Ed Boon, juntamente com Rayden do MK 2

O jogo ao invés de usar sprites desenhados a mão, como os concorrentes da época, a Midway contratava atores, onde retirava o fundo (processo usado com Chroma Key), dessa forma, a empresa buscava que os games parecessem reais.

Outro ponto distinto da série, é que na mecânica do game, ao invés de segurar para trás para defender, foi adicionado um botão de bloqueio.

Captura de imagens em Mortal Kombat

Com o tempo, Mortal Kombat foi ganhando sequências, porém a mecânica do jogo foi sendo pouco alterada ou evoluída, mas nada disso impactou o sucesso comercial, e a referência que ele havia alcançado, inclusive se tornando um dos pilares dos jogos de luta, juntamente com Street Fighter.

SNK e os grandes enredos

A SNK estava desenvolvendo seu sistema Neo-Geo, sendo que ele ficaria dentro dos gabinetes de arcade, e os cartuchos poderiam ser trocados, assim aumentando o retorno dos donos de fliperamas. Junto com a ajuda de Nishiyama, começaram a desenvolver games de luta para esse sistema.

Em 1991, sete meses após o boom do Street Fighter 2, chega aos arcades Fatal Fury, o game contava com 3 personagens controláveis, sendo que ele trouxe algumas novidades para os jogos de luta, como mudar entre os dois planos de controle, podendo mandar o personagem ir para trás ou para frente. Porém esse projeto era um pouco ambicioso, e já mostrava que estavam criando um universo compartilhado (similar a Marvel nos cinemas).

Capa do Fatal Fury 3

Em 1992, surge Art Of Fighting, se passando no mesmo universo de Fatal Fury, sendo que agora o game apresentava outra narrativa e outros personagens. O game possuía uma enorme variedade nas animações.

Eis que chega o em 1994 no mercado, The King Of Fighters 94, juntando Art Of Fighting, Fatal Fury e alguns outros games da SNK, sendo que o jogo consistia em lutas de 3 contra 3. O jogo se tornou um sucesso, e continuou saindo uma versão por ano até 2003, e depois algumas versões esporádicas.

The King Of Fighters 96

Nesse ponto, a rivalidade com a Capcom só aumentava, tanto que a Capcom para tirar uma com a SNK, cria o personagem Dan Hibiki, com movimentos que lembravam Robert Garcia e Ryo de Art Of Fighting, mas de uma forma cômica. Já do lado da SNK, o chefão de The King Of Fighters, Rugal, em sua sala tem estátuas de lutadores que ele venceu e transformou em pedras, e é possível reparar em silhuetas como do Zangief, Ryu, Akuma e Guile do Street Fighter.

Rugal, vilão icônico

As mecânicas criadas pelo jogo, assim como o fato de jogar com mais de um personagem, poder carregar o especial, etc fizeram com que ele ganhasse destaque e se tornasse um dos 3 pilares dos jogos de luta, ao lado do Street Fighter e Mortal Kombat.

O que a SNK fez com seus games, era investir na narrativa, sendo que esse era um diferencial, pois a maioria das empresas que produziam jogos de luta, não se importavam muito com os enredos, ou com as características dos personagens e seus relacionamentos. Dessa safra vieram grandes games como Samurai Shodown, Fatal Fury, Art Of Fighting, The Last Blade e The King Of Fighters (a saga do Orochi é aclamada até hoje pelos fãs).

Killer Instinct e o sistema rápido dos games de Luta

A Rare estava trabalhando há um tempo com modelos pré renderizados em CGI (saiba mais, lendo Como surgiu os jogos com sprites CGI), e o jogo Donkey Kong Country que foi feito utilizando esse processo havia se tornado um sucesso.

Em 1995, a empresa lança um jogo de luta chamado Killer Instinct, que contava também com modelos pré-renderizados, dando uma riqueza na animação de sprites, sendo que o jogo se tornou um sucesso nos fliperamas, e no port que teve para o Super Nintendo.

Killer Instinct

A grande sacada da Rare, foi deixar o jogo com combos e mecânicas rápidas, adicionando velocidade aos games de luta, sendo que era possível fazer combos enormes.

Em 1996 o jogo ganhou uma sequência, que depois ganhou um port para o Nintendo 64.

Virtua Fighter e a chegada e ascensão dos games em 3D

Assim como os consoles foram migrando do 2D para o 3D, os jogos de luta começaram a experimentar essa mudança, ainda na década de 1990. Tudo começou com a SEGA em 1993 (primeiro para fliperamas, depois um port para 32X e outro para Saturn), lançando Virtua Fighter. No jogo você controlava personagens em uma arena, sendo que o jogo era totalmente poligonal.

Nos antigos games de luta (com exceção de Fatal Fury que poderia ir para trás da fase), você não conseguia se esquivar para todas as direções possíveis, Virtua Fighter trouxe essa possibilidade, assim sendo possível controlar o personagem por toda área da fase.

Virtua Fighter, na época o gráfico era “real” rs

Logo começaram a vir vários games de luta em 3D, cada um com suas características e qualidades como Battle Arena Toshinden, Fighting Vipers, Bushido Blade, Tobal, Dark Rift, Dead Or Alive, Fighters Destiny, etc.

Algumas empresas tentaram usar uma mescla dos dois mundos, criando jogos em 2.5D, como foi com a Arika em parceria com a Capcom no jogo Street Fighter EX.

Street Fighter EX

A Midway ao ver o sucesso dos games 3D, migra Mortal Kombat para esse modelo, lançando Mortal Kombat 4 em 3D, mas utilizando capturas de movimento, apesar do jogo ser bom, a partir desse ponto Mortal Kombat foi perdendo identidade e o carisma que havia conquistado.

Uma empresa que se destacou nessa época foi a Namco, com duas franquias que inclusive, são consagradas até hoje, a franquia Soul (Soul Edge / Soul Calibur), e a franquia Tekken.

Tekken, clássico do Playstation

Tekken foi lançado em 1994 para Arcades, depois ganhou port para Playstation, sendo o “garoto propaganda” do console em quesito games de luta, para combater o Virtua Fighter do Saturn. Tekken foi ganhando sequencias e ganhando aprimoramentos em suas mecânicas. O diferencial do game é o estilo de botões sendo que cada botão é baseado em uma parte do corpo, assim dois botões para os braços e dois para as pernas.

Já a série Soul, deu início em 1995, sendo um game de luta de espadas com arenas (similar ao Virtua Fighter), onde vencia quem tirasse todo o life do oponente, ou derrubasse da arena. A franquia se tornou famosa, e inclusive sua sequência para Dreamcast, teve de ser refeita, não sendo um simples port do Arcade, e se tornou um dos jogos mais bem avaliados de todos os tempos (média 98 no MetaCritic).

Soul Calibur, clássico game de luta (um dos mais bem avaliados no MetaCritic)

Capcom lança CPS3, e os games com Sprites começam a dar os últimos suspiros

As empresas foram apostando mais em jogos em 3D, apesar disso ainda saiam diversos games bons em 2D, inclusive tendo uma grande safra de Crossovers famosos, como Xmen Vs Street Fighter e Marvel Vs Capcom.

A Capcom, lançou a placa CPS3 para os fliperamas em 1996 junto com o game Red Earth, e em seguida lançou Street Fighter 3. A placa trazia memória maior que as anteriores e as concorrentes, sons melhores, etc… Para se ter noção do nível de detalhes que a Capcom queria, antigamente os sprites dos personagens eram espelhados, por exemplo, Sagat do Street Fighter ou Kano do Mortal Kombat, não importava o lado que você pulasse, o tapa olho sempre estaria do mesmo lado.

A Capcom para provar o poder da CPS3, criou sprites sem espelhamento para alguns personagens, ou seja, do lado esquerdo da tela, existia uma animação ou cores diferentes do personagem no lado direito. Como o chefão, Gill, que é metade de uma cor do lado esquerdo, e metade de outra cor do lado direito.

Street Fighter 3

Por ser mais avançada, os games para essa placa eram difíceis de serem convertidos, Street Fighter 3 ganhou conversão apenas para o Dreamcast anos depois. Além do que, o jogo era um pouco mais difícil para jogadores comuns. Ele trazia mecânicas novas, e quem treinasse e aprimorasse elas, dificilmente iria perder para um jogador casual.

Além disso, o mercado de games de luta, parecia estar cansado, tivemos o crossover da Capcom com SNK em dois games excelentes, mas as vendas iam diminuindo, o interesse do pessoal também, logo os games tiveram investimentos cortados, e as empresas pareciam que não queriam mais investir nisso.

Cenário profissional começa a dar grandes passos e a Arc System Works mostra a que veio

A atenção para os games de luta começam a voltar em uma partida da EVO, de Street Fighter 3 Third Strike, em que Daigo Umehara (jogador profissional de Street Fighter) faz uma série de movimentos chamados de Aparrar (Parry), que você “defendia” o ataque do oponente indo para frente, porém tinha que ser no timing exato do movimento, além de exigir bastante habilidade do jogador, é uma técnica de difícil execução.

E o mais impressionante, é que ele consegue êxito ao defender todo o especial da Chun-Li e ainda emenda um combo, conseguindo vencer de virada e levando a torcida ao delírio. Veja no vídeo abaixo.

A Capcom vendo isso, sabia que o Street Fighter 3 havia conseguido lugar com jogadores profissionais, mas e o público casual, como conquistá-los novamente?

Eis que Arc System Works (Guilty Gear, BlazBlue, Dragon Ball FighterZ) havia construído um jogo chamado Battle Fantasia, que basicamente era um jogo com movimentação em 2D, mas com modelagens e cenários em 3D (similar ao antigo Street Fighter EX), e a execução do game era boa e imersiva com personagens cartunescos.

Battle Fantasia

A Capcom vendo isso, faz um grande estudo, e produz Street Fighter 4, com animações caricatas, personagens bem modelados, jogabilidade que agradasse tanto jogadores profissionais quanto casuais e com aquele toque de nostalgia.

Street Fighter 4

Não preciso dizer, que o jogo se tornou um sucesso né?

Games de luta voltam a ter destaque em seus lançamentos

Com o retorno de Street Fighter, vários games começaram a surgir e a alavancar valor do gênero no mercado, alguns sempre presentes como Dead Or Alive, BlazBlue, Guilty Gear, Soul Calibur e Tekken. Alguns que foram reinventados (com ideias parecidas com Street Fighter 4) como Mortal Kombat, The King Of Fighters e Marvel Vs Capcom. E outros novos que conseguiram destaque como Injustice e Dragon Ball FighterZ.

Para quem é fã de games de luta, basta aproveitar a safra atual de games, e torcer para que a qualidade sempre melhore.

Referências:
geek.com
gamesradar.com
reddit.com

Bom pessoal, por hoje é só.

Abraços e até a próxima.

About Daniel Atilio

Analista de sistemas e blogueiro nas horas vagas. Pode ser encontrado jogando Tetris por ai.

One thought on “A Evolução dos Jogos de Luta

    1. Realmente, sempre quando vejo, acho genial rs.
      Coisa de outro mundo rsrs.
      Obrigado pelo comentário Emerson.
      Um grande abraço.

  1. quando criança lembro de ir em uma padaria de Brasília e lá vi a máquina do game Yie ar Kung fu, lembro!!!! já nos anos 90 joguei e zerei a máquina do jogo Karateka, bons tempos! Nos anos 90 também que conheci Street fighter 1 e 2 e também o clássico Pit Fighter!!!! Acredito que street fighter 2, Mortal kombat e os jgos de luta da SNK foram os que mais marcaram e serviram muito como base dos jogos de luta atual…não citei Tekken porque muitas e a maioria das pessoas não imaginam que Virtua fighter da Sega foi base para o Playstation com os seus jgos vetoriais e com polígonos. Bons tempos dos jogos fight da vida…é por isso que não sou fã de falar mal dos jogos antigos, se vc joga o que joga hoje é porque existiu dois palitos lutando em sua tela de tv. valeu galera gamer!!!!

      1. Bons tempos, Joguei muito Fatal fury no SNES e Real bout na versão Neo Geo CD. Naquele tempo meu sonho era ter um Neo geo ou um máquina de street fighter 2 em csa. bons tempos mesmo!!!! valeu

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